O futuro do mercado imobiliário

Muito se tem escrito sobre o futuro do mercado imobiliário no pós-crise da COVID-19. E, de resto, as opiniões divergem muito. O que se compreende, dado que não é fácil encontrar base histórica comparável com o que estamos a viver e que nos ajude a perspetivar o que se vai passar a seguir. Desde logo, e no meu entender, falta-nos conhecer o dado mais relevante e que é, por agora, uma absoluta incógnita: quanto tempo vai durar o período de isolamento necessário para controlar a propagação da doença, não só em Portugal mas também em todos os outros países com quem nos relacionamos do ponto de vista económico. Na verdade, Portugal pode travar com sucesso a batalha contra o vírus, mas se os nossos principais parceiros económicos não forem tão bem sucedidos nessa luta, o impacto em termos económicos continuará a fazer-se sentir ainda que controlada a doença. O mercado imobiliário foi, de facto, um motor privilegiado de recuperação do país depois da última crise e não parou de crescer até dezembro de 2019, ano que fecha com um crescimento superior a 1% em número de transações e de quase 10% em valor. Arriscaria dizer que, se esta crise sanitária não for excessivamente prolongada no tempo, o impacto em termos económicos poderá ser relativamente limitado, permitindo um regresso à normalidade relativamente rápido. Deixará sempre marcas, claro está, como a falência das empresas menos capitalizadas e, em consequência, o aumento dos números do desemprego, mas não abanará fundamentalmente os mercados, e designadamente o mercado imobiliário. Poderemos assistir a uma baixa conjuntural dos preços, mas com tendência a retomar aos níveis pré-crise. Cenário diferente poderemos conhecer se, de facto, esta paragem das economias mundiais se prolongar muito para lá do final do primeiro semestre de 2020. As consequências ao nível do PIB, com quedas muito significativas e impacto muito forte nos tecidos económico e empresarial, atirando para o desemprego uma percentagem muito significativa da população, afetariam de forma importante os mercados imobiliários, com fortes impactos no número de transações e também na queda dos preços. Não é, com franqueza, com esse cenário que estamos neste momento a trabalhar. Acreditamos que à crise sanitária não sucederá uma crise económica, mas não ignoramos o impacto que sentirão empresas e particulares. Os mercados ajustarão ligeiramente, aproveitando a existência de investidores motivados e proprietários mais recetivos a reverem em baixa os preços. Por outro lado, os bancos continuarão com liquidez e disponibilidade para financiar famílias e empresas. Com elevada probabilidade, e em consequência dos efeitos da crise sanitária no Turismo, assistiremos a alguma reconversão de imóveis antes afetos a Alojamento Local em arrendamento tradicional, beneficiando as famílias de classe média. Acima de tudo, e ainda que por essa via a crise sanitária se prolongue, é muito importante que todos continuemos a seguir as indicações das autoridades de saúde, nomeadamente evitando as deslocações, contribuindo assim para o achatamento da curva da infeção, permitindo recuperar com sucesso o maior número possível de infetados.

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