Escritórios nos arredores: a nova tendência para a flexibilidade

Escritórios nos arredores: a nova tendência para a flexibilidade

Esta foi uma das conclusões do estudo “What workers want?”, feito pela Savills a nível europeu e, pela primeira vez, incluindo Portugal. No relatório esta semana apresentado, foram inquiridos 1.005 colaboradores aleatórios em Portugal, 50% deles trabalham em Lisboa, 27% no Norte e 15% do centro, em vários setores empresariais distintos. 53% são mulheres e 47% homens.

Trabalhar no centro da cidade já não é prioridade como seria de prever. 59% dos inquiridos afirma que quer trabalhar no centro, mas 20% já preferia trabalhar nos arredores, e 14% em parques empresariais.

Por outro lado, 11% dos colaboradores não estaria disposto a demorar mais do que leva atualmente para chegar ao trabalho, e 29% estaria disposto a aumentar em apenas 15 minutos o tempo que leva para chegar ao escritório. Fica evidente a vontade de perder menos tempo no movimento pendular, e a preocupação com o equilíbrio entre a vida pessoal e profissional: «estar mais perto de casa, poupar tempo e dinheiro, ter mais tempo para a família, são estas algumas das razões pelas quais os trabalhadores podem começar a escolher escritórios em zonas suburbanas, mais perto de casa».  

Está aqui uma nova oportunidade para o mercado de escritórios, segundo a Savills, mas também um grande desafio, pois há poucas opções, segundo Alexandra Gomes, Research da consultora: «os escritórios têm hoje uma taxa de disponibilidade muito baixa. É um desafio acrescido para os empregadores».

João Pedro Tavares, presidente da ACEGE, referiu na apresentação do estudo que «logo depois da remuneração, a conciliação entre família e trabalho é o fator mais importante para os colaboradores. Este é um tema estrutural do país» que neste momento regista «uma perda de 20% de talento. Falamos de mais bem-estar, não de mais salários. Tem a ver com a sociedade no geral».

 

Flexibilidade não pode significar perda de interação

O trabalho remoto continua a estar em cima da mesa da maior parte das empresas, salvo os casos em que tal não se aplica pela natureza da profissão. É outra forma de os colaboradores conseguirem uma melhor gestão do seu tempo e também de os empregadores pouparem alguns custos.

23% dos inquiridos neste relatório afirma que gostava de poder trabalhar a partir de casa. Apenas 14% podem efetivamente fazê-lo. 48% afirma ser encorajado a trabalhar a partir de casa quando necessário, e 46% afirma que não tem esse incentivo.

Mas é a interação entre as equipas e a vertente social que mais preocupa empregadores e empregados. Eventual sensação de isolamento, maior necessidade de obrigação ou distrações familiares e mais horas de trabalho são apontados como alguns pontos negativos do trabalho remoto permanente.

Uma solução mista, em que estejam acordados apenas alguns dias remotos por semana, por exemplo, pode ser a mais eficaz para conseguir o melhor dos dois mundos. A Brisa é exemplo disso. Henrique Pulido, diretor de Recursos Humanos da empresa, explica que «o trabalho flexível vai estar sempre em cima da mesa, usamos essa ferramenta para uma melhor conciliação das vidas, mas não teremos que seja feito em permanência. Não tem a ver com controlo, mas sim com o engagement e com o trabalho de equipa», explica.

«A flexibilidade é uma ferramenta para reter talento e aumentar a produtividade, mas vai certamente ser um grande desafio para o mercado de escritórios, cujo modelo de rendas terá de ser reinventado», comenta a Savills.

 

“Back to basics”

A inovação ganha cada vez mais importância quando se fala em escritórios, mas é com os fatores mais básicos que os colaboradores portugueses mais se preocupam.

72% escolheram o fator segurança como aquele com que mais está satisfeito no seu local de trabalho. Segue-se a iluminação, apontada por 67% dos colaboradores, a limpeza, por 65%, a área envolvente, por 62% e acesso a múltiplas casas-de-banho, por 60%.

Para 93% dos colaboradores, a limpeza é o ponto mais importante no seu local de trabalho, bem como o conforto, seguidos pelos 92% da qualidade do ar e da luminosidade, pelos 91% do silêncio e 90% da segurança, temperatura e ligação de wi-fi. O tempo de deslocação para o trabalho, o cheiro do espaço, nível de ruído ou custo da deslocação são outros dos fatores apontados como os mais importantes na hora de avaliar um local de trabalho.