Filipa Roseta: mercado está num “momento especial” para dar impulso ao arrendamento

Porque comprar casa deverá tornar-se cada vez mais difícil nos próximos tempos, arrendar vai ser cada vez mais uma opção para as famílias portuguesas, e a Câmara de Lisboa está convicta de que «o arrendamento vai ter de ter um ‘boom’».Pelo menos é essa a expetativa de Filipa Roseta, vereadora da Habitação da Câmara Municipal de Lisboa, que acredita que «este é um momento especial para finalmente darmos esse impulso ao mercado de arrendamento», não só pela sua grande necessidade, mas também porque existem alguns incentivos, nomeadamente por parte do Governo, aos contratos de longa duração, e a própria autarquia quer continuar a dar «o pontapé de saída para que volte a ter dinamismo. Podemos lançar incentivos para que o mercado arranque e funcione melhor, porque as casas existem, e estão na zona de Lisboa».Participando na conferência “Habitação & Mediação Imobiliária na Grande Lisboa: desafio ou oportunidade?”, organizada pela Zome a 9 de fevereiro, Filipa Roseta afirmou que existem cerca de 48.000 casas vazias em Lisboa, número que considera «absurdo» dado o problema habitacional do país. São casas que «têm de ir para o mercado, tudo tem de estar a funcionar». Disponibilizar terrenos para construção de casas com renda acessível na cidade é outra das medidas de longo prazo da autarquia, nomeadamente através da parceria com privados, solo municipal este que tem potencial para 9.500 novas habitações, incluindo zonas como o Vale de Santo António, Marvila, Beato ou Ameixoeira. «Temos de regenerar habitats como este, há muitas zonas subaproveitadas, mas nem como PRR conseguimos fazer isto tudo, criar um mercado acessível passa por parcerias para construir parte destes imóveis».Sobre medidas de mais curto prazo, Filipa Roseta recordou que, até ao final de fevereiro, estão abertas as candidaturas ao programa Subsídio Municipal ao Arrendamento Acessível da autarquia através do qual o município paga 1/3 da renda às famílias que estejam com dificuldades em fazer face à inflação. Entre outras condições definidas no portal Habitar Lisboa, para poder beneficiar deste apoio, as famílias têm de ter rendimentos de acordo com as condições definidas, e o valor da renda mensal tem de ser igual ou superior a 30% do rendimento mensal líquido atual do agregado habitacional, e não pode ser superior ao valor máximo da renda elegível para subsídio municipal.A vereadora da habitação recordou também que o município está neste momento a finalizar a Carta Municipal da Habitação, para a qual conta com o contributo e discussão de mais de 30 entidades.“Só conseguimos rentabilidade fazendo projetos grandes”Renata Queirós, Board Member do JPS Group, partilhou neste encontro a experiência da promotora imobiliária que tem cerca de 780.000 metros quadrados de habitação em carteira, em construção ou fase de projeto, e cerca de 700 casas em construção em simultâneo. Confirmando a dificuldade em produzir casas a preços acessíveis, garante que «só conseguimos ter rentabilidade fazendo projetos grandes e com escala, para conseguir margem com clientes portugueses, num preço de venda médio máximo de 3.500 euros por metro quadrado», e lembra que «os custos de construção são hoje um grande desafio. Faltam vários componentes para várias coisas, o que gera grandes atrasos nas construções, a par do tempo dos licenciamentos, e ainda seguimos regras desatualizadas do RJEU».O desencontro entre oferta e procura é hoje muito grande, um desequilíbrio que se tem vindo a agravar. António Ramalho, gestor e ex-CEO do Novobanco, recorda que, apesar da «verdadeira revolução» pela qual o mercado da habitação em Portugal passou nos últimos anos, «não tivemos qualquer produção [de construção] nos últimos 10 anos». E, hoje em dia, «a valorização dos imóveis é atrativa, 64% dos proprietários não têm dívidas na habitação, este ativo é a maior poupança das famílias». Certo é que «a oferta vai ter de surgir», apesar das dificuldades do mercado, e da grande competitividade de Lisboa, que «continua a ser uma cidade pequena, mas continua a comparar com os preços de outras cidades europeias».Apesar de ver uma banca mais robusta e bem preparada para as crises, o gestor alerta para um sinal menos positivo que poderá afetar o mercado nos próximos meses, apesar da sua grande atratividade: «nos últimos dois meses houve uma forte contração dos depósitos dos particulares, são as últimas utilizações de fundos poupados durante a pandemia, porque o rendimento disponível mostra-se insuficiente para todas as necessidades, inclusive para o crédito à habitação».Mediação imobiliária “tem tudo para acrescentar valor” entre oferta e procuraPerante a grande desadequação entre a oferta de habitação e a capacidade económica dos portugueses, «a mediação imobiliária profissionalizada pode acrescentar valor em vários aspetos no encontro dessas necessidades», afirma Patrícia Santos, CEO da Zome. «Tem de envolver bancos, câmaras, construtores, tudo tem de ser repensado», incluindo novas soluções para os jovens, que comparem, por exemplo, com o crédito bonificado de há 20 anos atrás.Para a responsável, «é urgente a regulação profissional da mediação, porque é o mediador que está a fazer este acompanhamento, e muitas vezes o produto que está no mercado não corresponde à procura. Temos todos os dados do nosso lado, sabemos o que é necessário», apela por isso a que se conclua a proposta de regulação do setor da mediação já anunciada no ano passado, com base numa proposta produzida pelo IMPIC, e que se traduza em lei.

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