Investidores globais centram atenções na habitação

Investidores globais centram atenções na habitação

A conclusão é de Phillip Wedge-Bernal, Associate Director EMEA Living Research and Strategy da JLL, que falava durante a 28ª ERES Industry Seminar, evento organizado pela European Real Estate Society, que este ano decorreu no ISEG, em Lisboa, sob o mote “New trends in international investment in residential property Europe”.

Num contexto de cada vez maior alocação de capital ao imobiliário a nível global, a escassez de ativos comerciais fez nos últimos anos com que os investidores procurassem diversificar os seus portfólios, e se voltassem para a habitação, setor que no ano passado somou 61.000 milhões de euros investidos só na Europa, sagrando-se a 2ª classe de ativos que mais investimento capta, logo a seguir aos escritórios.

As atenções recaem sobre setores alternativos como residências de estudantes, sénior, ativos de saúde ou co-living, que são também os setores onde mais cresce a procura, resultado dos desajustes do mercado. Além disso, mais e mais investidores procuram desenvolver ativos para o segmento médio do mercado: «têm a noção de que alguns mercados estão quentes e apontam para os mercados. Essa tendência já começou», garante Phillip Wedge-Bernal.

Consequentemente, está também a crescer o mercado de arrendamento. E segundo a JLL, grande parte dos investidores que ainda não investem em habitação pretendem fazê-lo a curto prazo, e os que já investem querem aumentar os seus portfólios.

Atualmente, «todos os países têm oportunidades atrativas para os investidores, e Lisboa é um dos “global hubs”», explicou o responsável, numa altura em que os interessados olham para cidades em vez de países. Acredita que «Lisboa e Porto vão ser muito importantes nesta área, apesar de haver ainda pouco investimento institucional em habitação», duas cidades que já captam muitos investidores pela sua «segurança, universidades ou custo de vida», referiu Patrícia Barão, Head of Residential da JLL em Portugal, durante um dos painéis do evento.

A Vanguard Properties é exemplo disso. Está apostada em vários projetos nas zonas de Lisboa, no Algarve e também na zona da Comporta, e José Cardoso Botelho afirma que «acreditamos muito no mercado de Lisboa», admitindo que atualmente «os preços estão muito caros. Há uns anos não tínhamos tanta competição como hoje, e isso é bom, há mais projetos com qualidade». Mas deixa o aviso de que o crescimento do residencial está dependente da construção de novos escritórios.

A necessidade de estabilidade legislativa foi também apontada pelos intervenientes neste painel como necessária para a manutenção da atração do investimento.

 

Um período de prosperidade que traz desafios

Lisboa não é exceção à regra europeia, e enfrenta hoje problemas de acesso à habitação. A capital «atravessa um período de prosperidade que traz desafios como este», referiu durante um dos debates Ricardo Veludo, vereador na Câmara Municipal de Lisboa.

No caso da capital portuguesa, e na ótica da oferta pública, considera que «temos o dinheiro, mas não temos capacidade de entregar o produto», afirmou o autarca, referindo-se à habitação acessível e à atual paragem no Programa de Renda Acessível na sua vertente de parceria com privados. Por isso mesmo, assume que «vamos trabalhar para alterar o modelo e ver como o mercado vai reagir».

Ricardo Veludo alertou para a importância dos desequilíbrios do mercado, que «podem levar a um risco sistémico, nomeadamente para investidores e empresas», questionando «o que é que o imobiliário e o capital podem fazer para contribuir para a estabilidade?».