Hotelaria poderá catalizar o investimento em 2021

Pelas contas da Cushman & Wakefield, o volume de negócios já identificados com conclusão praticamente certa para este ano soma “apenas” 1.350 milhões de euros, devendo ainda considerar-se um conjunto de outros processos de venda no valor global de 1.900 milhões de euros que, embora em suspenso devido à pandemia, podem ser retomados a qualquer momento e que, por isso, ainda podem ser concluídos até 2022. Além disso, «há muita atividade off-market que poderá baralhar ainda mais contas, acrescentando volumes significativos de investimento, incluindo vendas de grandes portfólios», acrescentou Paulo Sarmento, head of Capital Markets da Cushman & Wakefield.«Este é um ano demasiado atípico, e ainda há muitas incertezas para fazer previsões de final de ano», disse o especialista na apresentação do Marketbeat Primavera 2021, que decorreu esta terça-feira. Numa radiografia ao setor, é evidente que «os elevados níveis de liquidez se mantêm no mercado, o que continuará a beneficiar a atividade de investimento, e que não falta vontade do lado dos investidores» em alocar capital ao imobiliário português. «Mas o que vai haver será sobretudo uma polarização do seu interesse», fazendo com que a retoma aconteça de forma diferenciada entre os vários setores.Embora em ascensão na Europa, e a despertar um interesse cada vez maior junto dos investidores, classes de ativos alternativas como a saúde e os data centres não deverão registar grande expressividade em termos de volumes transacionados este ano, dada as caraterísticas do mercado nacional, «onde ainda há uma grande tradição patrimonialista entre os grandes grupos de saúde», além de que a oferta de data centres é ainda reduzida.Em contrapartida, um dos setores que poderá ter um importante efeito multiplicador nestas contas é a hotelaria, onde por conta da pandemia poderão vir a acontecer não só algumas transações distressed mas também alguns processos de sales & leaseback conduzidos por grupos hoteleiros historicamente patrimonialistas que, perante a necessidade de liquidez poderão optar nesta fase por se tornar arrendatários em algumas das suas unidades, admite a Cushman & Wakefield. Além disso, sublinhou Paulo Sarmento, «existem neste momento processos de venda em curso neste setor que poderão ter um efeito disruptor ainda em 2020, nomeadamente a operação de venda de uma carteira com 20 unidades hoteleiras geridas pela ECS, entre outros ativos, que poderá ser fechada por um valor acima dos 1.000 milhões de euros».Pressão dos investidores continuará a incentivar a promoção de BTR e logísticaA logística e a habitação contruída propositadamente para arrendamento (PRS) continuam no centro da mira dos investidores, contudo a escassez de oferta de ativos nestes setores é uma realidade que se mantém em 2021. Ora, esta pressão do lado dos investidores «continuará a despoletar um maior interesse na promoção de novos projetos», com este especialista a antecipar uma maior propensão para a realização de negócios em forward-funding ou forward purchase relativamente a projetos de BTR – Built to Rent, ou seja, de habitação construída de raiz para arrendamento. No caso da logística, «em Portugal ainda existe muito a cultura do proprietário-ocupante e, embora a procura esteja em alta, surge pouca oferta de qualidade para venda no mercado»; fazendo com que a entrada do novo stock especulativo já em construção no mercado seja acompanhada com bons olhos.Nos escritórios, apesar de se perspetivar uma atividade ocupacional em linha com a de 2020, tendo em conta a escassez de nova oferta já em construção tudo indica que a procura investidora continue dinâmica, embora com um maior enfoque em produto core e core+.Já no caso do retalho, a recuperação deverá ser mais lenta e heterogénea, liderada pelas unidades do setor alimentar, que têm exibido um comportamento mais resiliente, por oposição aos centros comerciais em localizações mais periféricas.

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