Imobiliário comercial: transações poderão atingir 2.000 milhões em 2023

Imobiliário comercial: transações poderão atingir 2.000 milhões em 2023

Nas suas estimativas para o cômputo anual do mercado imobiliário português em 2023, a JLL avança que as transações de imobiliário comercial poderão atingir entre os 1.800 e 2.000 milhões de euros.

Num ano em que a conjuntura geopolítica e macroeconómica teve um inevitável impacto no mercado imobiliário, a JLL estima também cerca de 100.000 metros quadrados de área de escritórios ocupada em Lisboa ao longo de 2023, traduzindo-se em quebras anuais de 45% e 63%, respetivamente.

O segmento residencial também foi afetado, embora a redução seja mais contida, antecipando-se uma contração na ordem dos 16% no volume de vendas, para cerca de 27.000 milhões de euros em transações em 2023. De acordo com a JLL, este cenário de compressão é resultado sobretudo da conjuntura desafiante quer a nível geopolítico e os respetivos riscos de recessão económica e acentuada instabilidade política.

JLL evidencia resiliência do mercado português

«Os últimos três anos mostraram-nos que não há dados adquiridos. Depois de uma pandemia inédita e do começo de um novo conflito armado na Europa, 2023 foi um ano de grandes desafios a todos os níveis. As economias abrandaram, a instabilidade política é hoje um risco generalizado e, tudo isso se desenvolveu tendo como pano de fundo uma inflação que não foi controlada como se previa e taxas de juro que cresceram além do que era expectável. Este é um quadro global que afeta Portugal e o mercado imobiliário diretamente», comenta Patrícia Barão, Head of Residential da JLL.

Gonçalo Santos, Head of Capital Markets da consultora, dá nota que «o volume de investimento em ativos comerciais caiu para quase metade, reflexo da pouca atividade de operações grande dimensão, as quais são geralmente efetuadas pelas grandes casas de investimento internacional. Contudo, este comportamento recessivo já era esperado desde início do ano, desde logo porque o exercício de 2022 atingiu níveis históricos, com algumas operações de grande volume e pouco típicas no mercado».

O responsável acrescenta que, «por um lado, Portugal tem um comportamento alinhado com a tendência da maioria dos mercados europeus, mas por outro, a estrutural falta de oferta na maioria dos diferentes setores do mercado imobiliário português, é um fator que, aliado à reconhecida qualidade dos nossos ativos, principalmente do ponto de vista operacional, contribui para a resiliência de preços verificada durante 2023, e que se traduz numa menor correção de valor quando comparamos com a vasta maioria das outras praças europeias».

No setor de industrial & logística a absorção prevê-se aumentar mais de 10% em termos anuais, no retalho as vendas nos centros comerciais aumentam 10% e o RevPar da hotelaria em Lisboa aumentou 29% até ao final do terceiro trimestre do ano, muito se devendo ao aumento do ADR (taxa média diária), o traduz uma maior qualificação da procura.

“Nem tudo são más notícias. Portugal terá, este ano, um dos maiores crescimentos económico da Europa. Estes fatores, aliados aos números do turismo em recordes históricos, tiveram impactos positivos em diversos setores como o retalho, a hotelaria e a logística, os quais revelaram boas performances em termos operacionais. Não podemos esquecer a promoção imobiliária que continua a atrair muito capital”

De acordo com Maria Empis, Head of Work Dynamics da JLL, «a ocupação de escritórios foi de facto muito impactada pelo contexto económico global, acrescido da dificuldade atual que as empresas enfrentam em aferir qual o escritório certo e qual a dimensão certa, num contexto de indefinição de qual o modelo de trabalho ideal que vai vigorar no futuro. Mas uma coisa é certa: os escritórios são essenciais para potenciar a cultura das empresas, a colaboração e a criatividade e assim continuarem a prosperar, pelo que não vão acabar, antes pelo contrário».

Imobiliário vai manter indicadores sólidos em 2024

Apesar do clima de incerteza geopolítica a nível internacional e a instabilidade política em Portugal, a consultora estima que o mercado mantenha indicadores sólidos. Em termos macroeconómicos, o cenário é um pouco mais favorável, pois apesar de as projeções para o crescimento do PIB serem mais brandas, as expetativas apontam para uma estabilização da inflação e travagem da subida de juros.

«Espera-se um ano 2024 alinhado com 2023 em termos de níveis de atividade do imobiliário, em que continuará a evidenciar-se uma falta transversal de oferta, uma tendência para a subida de rendas prime e para a sustentação dos preços da habitação. Naturalmente há setores que despertam maior interesse para investimento e promoção, também pela fase do ciclo em que que se encontram, como os segmentos alternativos, mas, em geral, podemos afirmar que Portugal continua no radar internacional, incluindo nos segmentos imobiliários tradicionais quer na ótica de ocupação quer de investimentos. A promoção vai continuar a ser um setor de oportunidade para este mercado, onde os imperativos de ESG são uma prioridade incontornável para quem desenvolve, compra e ocupa imóveis», completa Patrícia Barão.