Investimento: Lisboa «tem de aproveitar esta onda»

Investimento: Lisboa «tem de aproveitar esta onda»

 

Enquanto «facilitadora dos primeiros contactos», num contexto de investimento muito positivo, a Invest Lisboa acredita que ainda não está tudo feito. Depois de 25 participações em feiras internacionais ao longo dos últimos 9 anos, uma ação «que é muito necessária», considera que há que continuar a promover Lisboa e o país de uma forma conjunta: «aprendemos nestes fóruns internacionais que somos muito pequeninos e que temos de nos juntar para nos promovermos», dando os exemplos do Seixal, Montijo, ou o Porto.

Para Albert Castro, do MIPIM, outra das entidades organizadoras do Meet Up, «só no MIPIM há cerca de 500 investidores interessados em Portugal. A feira é uma ótima oportunidade de internacionalização e de networking para que os agentes do mercado possam convidar estes interessados a visitar o país», dando ainda destaque para a realização, no próximo certame, da Portuguese Conference, dinamizada com a Iberian Property.

 

“Há mais confiança e mais negócio”

Há mais confiança no mercado português nos dias que correm. Os investidores «confiam na economia nacional, no mercado imobiliário de uma forma geral, e particularmente em Lisboa, que é mais trendy», notou Jorge Bota, da B. Prime.

Enquadrando o mercado, alertou para a redução do stock de escritórios, uma das áreas mais dinâmicas do setor, onde «o ritmo de atividade e de colocação é claramente positivo e sem sinais de abrandamento». Em termos gerais, e depois de um primeiro trimestre inédito, calcula que o nível de investimento possa chegar no final de 2018 aos 2.500 milhões de euros.

Luís Carita, da SILVIP, explica que os investidores institucionais «movem-se por indicadores macroeconómicos, e sentem que as futuras do BCE podem aumentar o preço de outras classes de ativos, vão querer reduzir a sua exposição e vão continuar com os seus ativos mais core. Mas os family offices continuam com esse interesse no país».

A Merlin Properties, é exemplo deste interesse. Representando a socimi espanhola, João Carita explica que a empresa tem em curso um projeto de 300.000 m² logísticos em Castanheira do Ribatejo, além de vários investimentos em escritórios ou centros comerciais e comércio de rua. Acredita que «o mercado vai continuar a crescer».

O dinamismo é também evidente no contexto residencial. José Almeida, da Confidencial Imobiliário, explica que «o nível de preços está 5,1% acima do nível do pico de mercado, mas em termos reais o mercado residencial está 9% abaixo do pico de 2007». Mas as realidades são muito distintas: «há muitos e diversos mercados residenciais». E na capital, os preços «estão a valorizar a uma velocidade muito importante desde meados de 2015». Crescimento este que tem vindo a desacelerar e a estabilizar. Há também mais licenciamentos. Estão em fase de pré-licenciamento no país cerca de 150.000 fogos, segundo as contas da Ci.

 

Rendas acessíveis são uma das soluções para o mercado

O programa de rendas acessíveis da Câmara Municipal de Lisboa é visto pelos profissionais como uma das soluções para o mercado habitacional, e «uma forma de equilibrar o mercado e manter o habitat no centro de Lisboa para os portugueses e para os trabalhadores deslocados», acredita Pascal Gonçalves, Board Member da Libertas.

A empresa, que há 30 anos se dedica essencialmente ao mercado residencial, está precisamente a seguir esse caminho, apostada, entre outros projetos, na reabilitação de 10 edifícios habitacionais da Rua de São Lázaro, no âmbito do programa Renda Acessível. Este projeto «vai transformar esta rua», e deverá avançar já no início do próximo ano.

Segundo o responsável, este projeto terá um máximo de 30% de frações a preços de mercado. Os principais riscos prendem-se com «as frações colocadas no mercado livre, o facto de haver um gabinete próprio da câmara que trata disto, que não depende de nós, ou os custos de construção, que são muito mais elevados do que há um ano e meio».

 

Residências de Estudantes têm de ser pensadas para os portugueses

Um dos principais produtos de investimento alternativos e em expansão a nível global são as residências de estudantes. Patrícia Rodrigues, Patrícia Rodrigues, PhD, Consultora Independente que trabalha nesta área, também partilhou a sua experiência nesta sessão, notando que «o negócio não é muito complicado, mas há muitas variáveis difíceis de controlar, nomeadamente a capacidade que os estudantes têm para pagar uma renda mensal. E não podemos basear os nossos planos de negócio só nos estrangeiros, pois não há profundidade de mercado suficiente para isso», alertou.

Preços dos terrenos demasiado altos que concorrem com a hotelaria ou o residencial, falta de especificação nos PDMs ou os custos da construção são alguns dos entraves no avanço deste negócio em Portugal. Para uma renda de 700 euros mensais, a responsável explica que é necessário um valor do terreno de cerca de 700 euros por metro quadrado, o que «não se consegue atualmente em Lisboa. Neste momento, é impossível que estas residências compitam com os outros mercados».

 

Estabilidade e celeridade são essenciais

Para que continue a boa onda de investimento, o mercado acredita que tem de haver estabilidade legislativa e mais rapidez nos processos de licenciamentos nas câmaras.

Hugo Santos Ferreira, da APPII, notou na sessão que «temos dois graves problemas para resolver, nomeadamente a falta de oferta e a subida dos preços, que só se resolve com o aumento da oferta e com a estabilidade legislativa». Isto porque «anúncios de novos impostos ou taxas faz com que os investidores não entrem com a mesma afluência em Portugal». E, do lado da oferta habitacional, acredita que «as parcerias como o Renda Acessível são muito úteis, é através delas que o património do estado pode ser colocado à disposição. Precisamos de oferta para a classe média portuguesa e não só, nomeadamente fora dos centros urbanos. Os portugueses têm de ter acesso à habitação se quisermos continuar a ser atrativos daqui a 5 anos».

Nas autarquias, os processos prolongam-se cada vez mais. Segundo Pascal Gonçalves, «o serviço da CML piorou muito nos últimos 3 anos pelo aumento do número de projetos, e por causa da contratação pública, demora cerca de um ano e meio para contratar alguém. Não é normal que demoremos dois anos e meio para licenciar um projeto. E não acontece só em Lisboa, a administração pública tem muita dificuldade em adaptar-se às novas circunstâncias do mercado».

 

Organizado pela Iberian Property, este evento faz parte de um conjunto de sessões que terão lugar, além de Porto e Lisboa, em Madrid, Bilbao e Barcelona. O Meet Up de Lisboa contou com os apoios da Invest Lisboa, do MIPIM, Meridiana e B. Prime.