Cooperação entre as empresas é “crítica” para a inovação do setor

A maior união entre as empresas do setor da construção e do imobiliário é vista como essencial para potenciar a inovação neste setor, que se depara com uma série de desafios importantes, desde a falta de habitação à necessidade de descarbonização. A mudança é necessária, e foi destaque do último Pequeno Almoço da APPII. A “Inovação e industrialização no mercado imobiliário – Caso de Espanha” foi o mote para a Executive Breakfast Session que a associação organizou a 28 de novembro no hotel Tivoli, em Lisboa. Convidou Juan Antonio Goméz-Pintado, presidente do “Clúster de la Edificación” espanhol, e CEO da Vía Ágora, que partilhou que este cluster foi criado «para reunir todo o conhecimento das nossas empresas, para que as coisas não se façam só individualmente. Queremos olhar para os fundos europeus em conjunto, e evoluir para termos um setor completamente diferente». Em Espanha, há que ultrapassar questões em tudo semelhantes às que o mercado português vive, com as devidas diferenças de escala ou de cultura, como a dificuldade no acesso à habitação, principalmente por parte dos jovens. A contínua subida das taxas de juro já fez descer o número de operações de compra e venda de habitação em Espanha, mais no mercado dos usados, e mantém-se o aumento dos custos de construção, que chegou a ser de 20% nos últimos dois anos. Assim como a «falta de emprego de qualidade e de mão-de-obra», um «problema geracional», segundo Gómez-Pintado. A par disso, há uma nova legislação europeia a cumprir na área da sustentabilidade, no âmbito do European Green Deal, com regulação que «muda constantemente. Temos metas de descarbonização para cumprir, e temos de perceber como se vão refletir no nosso setor». A legislação é também um tema na área da habitação, e em Espanha têm vindo a ser implementadas novas medidas de «intervenção muito direta do Estado no arrendamento, o que leva à saída de mais habitações deste mercado. Aumenta muito a tensão». Por outro lado, há escassez de terrenos para construção, e «a legislação torna tudo muito complicado». Mas as concessões de terrenos públicos para Build to Rent, nomeadamente em parceria com privados, é promissora, e há muita expetativa no mercado espanhol de como poderá evoluir este mercado em particular. Por isso, o cluster está a trabalhar em iniciativas como a disponibilização de formação e atração de jovens e mulheres para o setor, ou na «pesquisa de novos materiais, como sistemas híbridos de aço e madeira ou cimento e madeira. Estamos a aumentar a nossa capacidade instalada nestas indústrias, e pouco a pouco vamos ver como mudam estes processos». Um espaço onde os concorrentes se podem “sentar para resolver problemas” Por seu lado, Miguel Pinto, diretor e gerente do “Clúster de la Edificación”, também convidado deste encontro, reforçou que este cluster tem como principal objetivo «criar melhores cidades através da inovação na edificação. É um espaço onde empresas tipicamente concorrentes se podem sentar e juntar para resolver problemas. Isto é crítico para a inovação», acredita. O cluster tem vários grupos de trabalho e áreas estratégicas definidas para a implementação de práticas inovadoras, nomeadamente a sustentabilidade ambiental, a reabilitação urbana, a formação e emprego, a transformação digital (promovendo por exemplo o uso do BIM de forma generalizada, a Lean Construction, ou um standard de medição de áreas, e ainda a industrialização da construção. «Estes grupos de trabalho dão respostas às necessidades do promotor, como a tramitação urbanística e projeto ágil, no cálculo dos tempos e custos de construção, construção sustentável, com pessoal qualificado, na escritura ágil, na melhoraria da reputação da empresa, ou para conseguir um ativo mais sustentável». Todos estes projetos se baseiam «sobretudo na inovação dos processos». Miguel Pinto completa ainda que «este setor ainda tem pouca informação e formação, pouco emprego jovem ou feminino, temos de criar valor inovando os processos. Existe talento e massa crítica, mas ainda não estamos suficientemente juntos para que tudo mude de forma significativa e para que tenhamos a inovação de que precisamos». Portugal dá “os primeiros passos” Neste encontro, e depois de apresentado o exemplo espanhol, Hugo Santos Ferreira, presidente da APPII, partilhou que, em Portugal, onde ainda há bastante resistência à mudança neste setor, «estamos a dar os primeiros passos nisto, ainda existe alguma desarticulação e cada empresa e cada setor faz o seu próprio caminho. Mas estamos a avançar na construção modular, na construção em madeira, e o maior avanço que vamos verificar na área da sustentabilidade será mesmo nos materiais». Sobre os desafios que se enfrentam no nosso país, aponta o enquadramento político e legislativo para o cumprimento das metas europeias, convencido de que «não vamos cumprir até 2030 os objetivos europeus de descarbonização, e o resto da Europa também não. Há uma grande desarticulação das transposições das diretivas europeias nos vários países».

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