«É preciso atualizar o parque imobiliário português»

«É preciso atualizar o parque imobiliário português»

O alerta foi dado por Pedro Lancastre, diretor-geral da JLL Portugal, que esta quarta-feira apresentou à imprensa as conclusões do último Market 360º, deixando bem claro que embora se antecipe um novo ano de grande dinamismo imobiliário, os recordes atingidos no ano passado não deverão ser superados devido, sobretudo, à limitação da oferta.

«Uma vez mais, 2019 deverá ficar marcado por fundamentais fortes, com a procura a continuar a superar largamente a oferta em praticamente todas as áreas transacionáveis», resumiu a diretora de Research, Maria Empis. A diversificação e a internacionalização da origem do capital que aporta ao setor é uma das tendências que veio para ficar, advoga esta especialista, revelando que no ano que findou foram 15 as nacionalidades que concluíram operações de investimento imobiliário comercial no nosso país, além das 45 nacionalidades que compraram casa com o apoio do departamento residencial da JLL.

O aumento dos custos de construção, que subiram cerca de 30% nos últimos três anos, e a morosidade dos processos de licenciamento são, segundo Gonçalo Santos, diretor do departamento de Development,dois dos maiores entraves que, nesta fase, estão a atrasar a entrada de mais stock no mercado. Isso não quer, contudo, dizer que o lançamento de novos projetos esteja parado, sendo mesmo de esperar um relançamento da promoção nova em 2019, nomeadamente com uma aposta reforçada em projetos de grande escala.

 

Investimento pode cair 25%, mas 2019 continuará a ser um dos melhores anos de sempre

A par com a menor disponibilidade da oferta, «há todo um conjunto de situações externas a Portugal, como o Brexit, as eleições na Alemanha, a instabilidade social em França e o acentuar as tensões entre a Europa e o governo de Trump, que podem contagiar a atividade de investimento no nosso país», notou, por seu turno, Fernando Ferreira. As projeções do departamento de Capital Markets apontam para uma descida de perto de 25% no volume transacionado em imobiliário comercial, dos 3.300 milhões de euros de 2018 para «mais de 2.500 milhões de euros previstos para 2019». Os escritórios deverão ter um grande peso neste resultado, «embora ainda existam alguns shoppings no mercado com capacidade suficiente para atrair grandes investidores», avançou ainda líder desta área de negócio que, recorde-se, no ano passado assessorou transações no valor de 1.900 milhões de euros.

Já os hotéis deverão ter um contributo em linha com o de 2018, quando o setor movimentou 230 milhões de euros em investimento, dos quais perto de 100 milhões em operações assessoradas pela área de Hotels & Hospitality da JLL, dirigida por Karina Simões. «As expetativas para 2019 são a de continuar com o crescimento acelerado. A operação turística está a correr muito bem em todo o país, e isso permite-nos ser também muito ambiciosos no que se refere ao investimento», disse, acrescentando que «atualmente, com a carteira de negócios que já temos em pipeline, estimamos que o volume investido em hotelaria seja idêntico ao de 2018».

Estes números não consideram, contudo, o possível impacto que o arranque do regime das SIGI (também conhecidas como REITs portugueses) possa vir a ter no mercado este ano. «Quando avançámos com as nossas estimativas, não tinha ainda sido publicado o decreto lei 19/2019 de 28 de janeiro, mas admitimos que a entrada em vigor deste diploma venha a ter um impacto positivo» no mercado de investimento, considera Fernando Ferreira. Ainda assim, «qualquer valor que possamos avançar como previsão para o investimento das SIGI em 2019 é pura especulação».

 

Preços estabilizam, mas o mercado continua a valorizar

No que se refere aos valores praticados no mercado, a JLL acredita que «os preços devam começar a estabilizar na habitação, por via do crescimento da oferta» previsto para este ano, disse Maria Empis. No caso dos ativos comerciais e de rendimento, «os valores de venda também deverão estabilizar, sendo que aí a valorização será feita sobretudo pelo aumento das rendas e não pelas yields, que não deverão sofrer grandes alterações».

Atualmente, a renda prime de escritórios em Portugal ronda os 22€/m² mensais. E, atendendo aos fluxos de oferta que continuam mais fortes do que nunca, juntamente com a falta de produto disponível para lhe responder no imediato, há espaço para que estes valores possam continuar a ser revistos em alta ao longo deste ano, acredita a diretora de Office Agency, Mariana Rosa. Segundo esta responsável, «no ano passado fizemos milagres para instalar os mais de 200.000 m² transacionados em Lisboa, porque havia muita procura, mas muito pouca oferta, o que obrigou a muita criatividade e flexibilidade, que resultaram em alguns na conversão de espaços como antigos armazéns ou cinemas em novos espaços de escritórios». Uma tendência que poderá continuar este ano, contabilizando-se atualmente cerca de 560.000 m² de nova ABL em pipeline com conclusão prevista até 2023, e dos quais 37% tem já ocupação garantida.