Sustentabilidade traz valor aos ativos. Investidores cada vez mais cientes disso

Quando se fala em sustentabilidade e descarbonização, as metas definidas, para 2030 ou 2050, ainda nos remetem para o futuro, mas a verdade é que há que atuar desde já, se o imobiliário quer fazer parte da mudança e garantir a manutenção de valor nos próximos anos.Num contexto em que o imobiliário é responsável por 40% do consumo de energia e 36% das emissões na União Europeia, de pouco servirá o esforço de mudança e de descarbonização se o imobiliário não fizer parte dele. Seja como for, o imobiliário terá mesmo de se adaptar para não perder valor nem atualidade, concluem os especialistas presentes na edição das Jornadas de FM “Performance dos edifícios e Green Procurement”, organizada a 28 de junho pela Associação Portuguesa de Facility Management.Na sua apresentação sobre certificações e finanças sustentáveis, Miguel Subtil, da Atomo Capital Partners, recordou que, «o portfólio imobiliário não pode ficar desatualizado, obsoleto ou pouco líquido. Quanto mais ‘carbon intensive’ for, mais problemas terá no futuro». E salientou a importância da taxonomia europeia, que vai ajudar “«com a definição do que são exatamente as atividades sustentáveis».A instalação de soluções e medidas de eficiência energética e descarbonização podem representar um investimento adicional, mas «têm impacto nos resultados financeiros das organizações». E mais do que isso, «mostram se estou ou não alinhado com certos princípios ao nível do portfólio imobiliário, do financiamento. Os ocupantes começam a perceber que isto também tem impacto, e os clientes dão cada vez mais importância a estas coisas. É importante ‘fazer o que digo’, e as empresas têm de ter isso em conta», afirma Miguel Subtil.Investidores veem melhoria no valor dos ativos “quando se introduzem as questões da sustentabilidade”O banco Santander está alinhado com esta mudança e quer ser neutro em emissões de carbono em 2050. Na sua apresentação, Susana Antunes recordou que hoje «há uma grande pressão da União Europeia ou das famílias sobre estas questões», e que, no final do dia, «o banco terá de contabilizar também as emissões das empresas que financia».A responsável explica que o banco identificou os riscos físicos e de transição, incluindo dos ativos e dos clientes, e tem também em conta que, se as mudanças necessárias não forem feitas, «podemos vir a ter problemas com o regulador, os clientes podem deixar de querer trabalhar connosco por questões reputacionais, e temos de oferecer serviços que promovam ativamente esta transição, e queremos apoiar os nossos clientes na mesma».“Os clientes podem deixar de querer trabalhar connosco por questões reputacionais”Seja como for, «temos sempre de ter um business case», até porque «os investidores veem uma melhoria no valor dos ativos imobiliários quando se introduzem as questões da sustentabilidade, nomeadamente no valor de venda, no valor das rendas, na própria ocupação do edifício e sua colocação no mercado. Tem vantagens em tudo, por isso essa questão passou a ser relevante, e há risco de desvalorização se assim não for».Mas Miguel Subtil avisa: «ainda não estamos no caminho certo, ainda não estamos a fazer o suficiente para cumprir o Acordo de Paris, se continuarmos assim, não vamos lá chegar». Isto porque as mudanças não estão ainda a ser feitas «massivamente, porque muitas externalidades não são ainda incorporadas nos riscos e custos das empresas. E as análises de risco e o próprio cálculo do risco de transição não são ainda bem feitas, por isso existe este desfasamento e esta falha de mercado». As mudanças têm de ser feitas «se queremos chegar a algum lado».O papel das certificaçõesAs certificações podem ajudar a trilhar este caminho logo desde a fase de planeamento do projeto. Foi o que fez a Nestlé, que tem um campus renovado na zona de Carnaxide que começou a planear em 2018 para ter as certificações LEED Gold e WELL Platinum de que hoje se orgulha. Luís Silva, da Nestlé, atesta que «ter a certificação por trás dá uma segurança adicional à elaboração do projeto, pois há uma série de critérios a cumprir», que passam pelas intervenções «dos serviços, da construtora, de todos, desde o início do projeto», respeitando prioridades relacionadas com o combate às alterações climáticas ou com a saúde das pessoas.Nesta conferência, Marta Jordão, da Helexia, apresentou o exemplo de descarbonização no retalho do trabalho da empresa com a Leroy Merlin em várias localizações e lojas, como Leiria, Setúbal, Matosinhos, Carnaxide, Sintra ou Albufeira. «Trabalhámos o autoconsumo de energia limpa, eficiência energética, mobilidade elétrica e certificação BREEAM». Com um investimento de 3 milhões de euros, «conseguimos 4% da satisfação das necessidades de energia elétrica das lojas através de sistemas de autoconsumo solar, mais de 300.000 euros de poupanças na fatura energética, 36% de poupanças económicas nos custos de iluminação, 10GW de energia limpa produzida, e muitos outros impactos positivos difíceis de medir».Tecnologia pode ajudar na adaptação dos ativos imobiliáriosUm dos papéis da tecnologia nesta transição passa pela medição e pela disponibilização e gestão de dados. A Nextbitt é especialista nisso, e Susana Ribeiro explicou que «através da sensorização conseguimos medir vários consumos, como gás, temperatura, eletricidade, que podem dar inputs importantes a um sistema de gestão ambiental». No caso da plataforma da Nextbitt, esta «permite monitorizar um dashboard e configurar gestão de tarifas, alarmes, sensores ou eventos e fazer relatórios. Ajuda as empresas que queiram implementar o seu sistema de gestão ambiental, porque conseguimos ter a informação necessária para o controlo dos consumos». E conclui que «gerindo conseguimos estabelecer objetivos, caminhos, e só numa prática efetiva de gestão das empresas podemos conseguir a sustentabilidade».

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